top of page
Dr. António Almeida Santos (1926 - 2016)
Associado Honorário da PSIJUS 

Na morte de António Almeida Santos, a PSIJUS evoca a sua personalidade ímpar de democrata, socialista, estadista e, antes de tudo, de cidadão exemplar, permanentemente dedicado à causa pública, Homem que se empenhou sempre na elevação da qualidade de vida da população e que nunca se exonerou dos deveres de solidariedade, fazendo da trilogia Liberdade, Igualdade e Fraternidade um estilo de estar no mundo.

 

Nesta hora de perda, o país e muitos atores políticos já destacaram Almeida Santos nas diversas dimensões que assumiu, antes e depois de 25 de Abril, quer na oposição ao salazarismo-caetanismo, quer enquanto grande arquiteto da legislação que edificou o regime político-constitucional saído da Revolução de 1974. Cabe-nos testemunhar as razões por que o designámos, desde a primeira hora, Associado Honorário: Almeida Santos foi, ao longo de mais de década e meia, o primeiro político ao preocupar-se seriamente com a problemática da droga e da toxicodependência, desde 1975, quando, num rasgo de genialidade, se apercebeu que a questão não se travava nas linhas do discurso criminalizador, antes nas suas entrelinhas, no intra discurso dos consumidores; e já no remoto ano de 1976 preconizava a descriminalização do consumo de substâncias ilícitas, a qual apenas em 2000 viria a conhecer a luz da realidade – diremos que em grande parte por sua iniciativa. Quando o legislador, os tribunais e os dispositivos policiais teimavam em considerar a droga um problema criminal, Almeida Santos abria novos horizontes, depois de estudar afincadamente o assunto e criava novas instâncias de tratamento e reinserção, dispensando polícias e contratando psiquiatras e psicólogos. Era a diferença que marcaria para sempre a política das drogas em Portugal.

 

Muitas outras áreas da vivência coletiva ficaram fortemente ligadas a este estadista.

 

Quando lhe comuniquei que a Assembleia Geral da PSIJUS decidira atribuir-lhe o título de Associado Honorário, sorriu e disse de imediato que aceitava; tal como em 2004 quando o convidei para proferir a conferência inaugural do II Congresso Internacional de Psicologia Criminal e do Comportamento Desviante – Estranhas formas de vida, em que nos ofereceu uma magnífica oração de sapiência sobre exclusão social.

 

***

 

Seja-me permitido um testemunho pessoal: conheci o Dr. Almeida Santos há muitos anos, no início da década de Oitenta. Mais tarde, em 1983-1985, trabalhei fui adjunto no gabinete de um seu secretário de Estado, no IX Governo, e foi nesse então que me pude aperceber bem da dimensão cívica, humana e política que o caraterizava. Aprendi muito, nesse tempo, com a sua tranquilidade, mesmo em tempos de marés revoltas, e com a maneira aparentemente simples como escrevia e legislava. Ao longo da vida mantive o privilégio de o encontrar com alguma regularidade, em momentos em que partilhava sempre saber e boa vontade. Quando lhe pedi, em 2003 – um pouco atrevidamente, reconheço – que me prefaciasse o meu primeiro livro de ficção, acedeu de imediato e, em poucos dias, entregou-me o texto. Antes, no almoço em que lhe passei os contos, com o pedido de ajuda na escolha dos textos e no alinhamento, deu-me um conselho que retenho: Vai ter de perceber que também gostamos dos filhos feios. E quis estar presente no dia em que o livro foi lançado.

 

Nas várias oportunidades em que estive com o Dr. Almeida Santos, tanto no âmbito das suas atividades políticas e cívicas como por razões pessoais, enriqueci-me culturalmente e beneficiei da vastidão do seu conhecimento. Era um Homem solidário, de enorme eloquência e elegância, dotado de um requintado sentido de humor e com rara capacidade de estar com os outros. Também no meu processo de evolução política o considero uma das maiores referências.

 

Portugal perde um grande estadista. A PSIJUS perde um notável Associado Honorário. E eu perco um Amigo.

 

19.Janeiro.2016

 

A Direção da PSIJUS

 

Carlos Alberto Poiares

 

“Abafai meus gritos com mordaças/ maior será a minha ânsia de gritá-los/ amarrai meus pulsos com grilhões/ maior seria minha ânsia de quebrá-los/ Rasgai a minha carne/ triturai os meus ossos/ O meu sangue será a minha bandeira/ e meus ossos o cimento duma outra humanidade/ que aqui ninguém se entrega/ isto é vencer ou morrer…” 

Joaquim Namorado

bottom of page